E seguia-o uma grande multidão, porque via os sinais que operava sobre os enfermos. (João 6.2)
Quinta-feira passada, em nossa célula, trabalhamos o tema seguidor/discípulo à luz de algumas referências no evangelho de João. São múltiplas leituras possíveis, mas uma delas me deixou mais pensativa. Aquela de que o seguidor de Jesus é alguém que João claramente identifica como tendo uma necessidade ou desejo: ser curado, receber pão, etc. Homens e mulheres que andam atrás de Jesus por causa das coisas que ele pode fazer. Entretanto, refletimos que as necessidades mais urgentes que esses seguidores e seguidoras trazem são legítimas. Estariam na base da pirâmide das necessidades de Maslow, se tivéssemos sido mais acadêmicas na avaliação! De certo modo, entendemos que toda pessoa inicia sua jornada com Deus e com sua espiritualidade a partir de uma necessidade. É real. Não podemos ignorar este fato. Jesus não o condena, porque ele sabe que a necessidade é um motor fundante na vida de alguém. Jesus fica cansado, esgotado em muitos momentos, mas não é usual vê-lo reclamar da multidão. Ele reconhece seu estágio de vida. Jesus se queixa é de quem se acha figurão: fariseus, sacerdotes, discípulos atrevidos… então o problema é que quem deseja ser discípulo precisa abandonar as práticas dos seguidores. Isto é, chega uma hora na vida da gente em que passamos do estágio de ter nossas próprias necessidades atendidas para nos tornarmos provedores e provedoras para outros. Este é o estágio em que Deus deseja que nossas vidas estejam. Boa parte da má qualidade de prática, pensamentos, vida e testemunhos da cristandade atual reside no fato de que, embora muitos anos se tenham passado, continuamos no nível de seguidores. Isso cansa, esgota e frustra em nível comunitário. Isso gera desigrejados/as e afasta as pessoas da graça transformadora de Deus. É como uma multidão de pirâmides semi-construídas de Maslow. É preciso chegar ao topo da pirâmide, onde as necessidades existenciais também sejam atendidas, porque essas necessidades mais altas têm relação profunda com a comunhão e bons relacionamentos, que geram liberdade, acolhida e vida. Ao ponto de, frente à ameaça da separação, Pedro dizer: “Senhor, para onde iremos nós? Só tu tens as palavras de vida!”. Passamos da fase em que querer cura, conforto, bens e pão é suficiente, para perceber que um discípulo ou discípula é a pessoa que descobriu que sua necessidade maior é da pessoa do mestre e não dos atos do mestre. Sem isso, voltamos a estar pior do que na estaca zero.